quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Marcando o passo com um discurso vazio

Há uma crença bastante difundida de que os professores não se constituem como classe. Quem já não ouviu, ou se viu reproduzindo esta afirmativa: “Os professores são uma classe desunida!” Como todo discurso, esta afirmação revela muito do sujeito que o emite e do contexto em que ele é aceito. Primeiro: o que gostaríamos de entender como “classe unida”; e segundo: o que advém da repetição (sem reflexão) de tal afirmativa? Estas são questões que pretendem nos colocar, enquanto participantes desta “classe desunida” como co-responsáveis por este estado de coisas.

Para responder a primeira questão devemos entender que o modelo de classes vigente em nossa sociedade fundamenta-se na idéia de “luta de classes” que se evidencia na militância sindical. No entanto, entendo pessoalmente como classe a conjunção de ideais comuns por partes de pessoas que atuam num mesmo seguimento. Não há, de fato, esta conjunção de ideais. Cabe-nos, no entanto, questionarmo-nos o porquê. Apressadamente, diria que por ignorância do que vem ser seu ideal pessoal por parte de muitos dos professores. Entenda-se ideal como a plena consciência de seu papel e de suas funções e o anseio de bem desempenhá-los.

Ao reiterarmos a afirmação de que somos uma classe desunida simplesmente marcamos o passo, não avançarmos a lugar algum. Nem ao menos nos damos conta de que estamos contribuindo para a degradação da imagem social da profissão docente. E nesta sociedade só sobrevivemos a partir de uma boa imagem. Não estou dizendo que simplesmente abolindo esta afirmação de nossas falas algo vá melhorar, mas simplesmente que quando a afirmarmos devemos ter em mente o contexto que ela traduz, a saber, a depreciação do docente enquanto membro de uma classe e do poder de mobilização que este docente atuando enquanto classe tem.

Pense: Participar de uma classe não significa deixar-se tragar pela homogeneização, nem esconder-se atrás das ações do grupo, pelo contrário, ao atuar profissionalmente de maneira independente e ao afirmar-se em sua singularidade mais você estará contribuindo para a melhoria da imagem docente.

Recomendo: Um livro bastante agradável de ler: Uma história íntima da humanidade, de Theodore Zeldin. Ele trata da evolução histórica dos sentimentos humanos de uma maneira encantadora, sempre partindo de um relato de vida de uma pessoa comum. E um texto transformador: Tratado da correção do intelecto, de Espinosa. É começo de um pensar por si mesmo, sem se deixar levar por crenças irrefletidas ou pelo discurso persuasivo do outro. Ensina a tomar as rédeas de seu próprio pensar.

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Profissionalizar-se: tornar-se professor

O envolvimento com a educação nasce de uma imposição, pouco a pouco vai tornando-se oportunidade, até fazer parte inalienável de nossa identidade. Este é o caminho por que muitos de nós, cidadãos escolarizados, passamos. Alguns chegam a se identificar tanto com a educação que passam a fazer parte efetiva de seu processo, profissionalizam-se: tornam-se professor.

Identifico o termo “profissionalização” com “tornar-se professor” justamente para realçar a dimensão profissional do ser professor dentro de uma lógica de mercado à qual não podemos escapar. O termo profissionalização demanda uma série de características que priorizam a qualificação do sujeito de tal forma que só pode resultar numa melhoria na qualidade de ensino.

As palavras têm força. Elas carregam em si certo poder de assujeitamento, vide a imagem profissional evocada em qualquer um (sem intenção preconceituosa explícita e pessoal) de expressões como “professor eventual”, “OFA”, “Categoria F” e outras. Por mais que queiramos ver o professor de outra forma tais palavras designam uma posição, um valor, um conceito do profissional que é colocado sob qualquer um destes rótulos, que revelam a degradação profissional da docência.

Pense: “Que imagens, sentimentos e ideias evocam certas palavras muito usadas no meio educacional? E como você se posiciona frente a elas e as ideias por elas evocadas?”

Recomendo: Dois textos, um do António Nóvoa, O regresso dos professores, e outro do Phillippe Perrenoud, Os dez não-ditos ou a face escondida da profissão docente. Ambos são encontrados facilmente na Net. Já li o texto de Nóvoa, não diz muita novidade, mas vale pelo enunciador do discurso. Estou para ler o texto de Perrenoud, o título me instigou, espero que me revele tal face escondida.